terça-feira, novembro 21, 2006

Mão na parede


Veraneio Vascaína
Capital Inicial
Composição: Flávio Lemos/Renato Russo
Cuidado, pessoal, lá vem vindo a veraneio
Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com números do lado, dentro dois ou três tarados
Assassinos armados, uniformizados
Veraneio vascaína vem dobrando a esquina
Porque pobre quando nasce com instinto assassino
Sabe o que vai ser quando crescer desde menino
Ladrão pra roubar, marginal pra matar
Papai eu quero ser policial quando eu crescer
Cuidado, pessoal, lá vem vindo a veraneio
Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com números do lado, dentro dois ou três tarados
Assassinos armados, uniformizados
Veraneio vascaína vem dobrando a esquina
Se eles com fogo em cima, é melhor sair da frente
Tanto faz, ninguém se importa se você é inocente
Com uma arma na mão eu boto fogo no país
E não vai ter problema eu sei estou do lado da lei
Cuidado, pessoal, lá vem vindo a veraneio
Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com números do lado, dentro dois ou três tarados
Assassinos armados, uniformizados
Veraneio vascaína vem dobrando a esquina
Veraneio vascaína vem dobrando a esquina
Veraneio vascaína vem dobrando a esquina
Essa música faz alusão ao utilitário Veraneio, que foi fabricado pela GM, antiga Chevrolet, que por sua vez era o carro preferido dos policiais em suas rondas e batidas. Começou a ser utilizado ainda durante o período negro da ditadura militar, quando muito sangue foi vertido dentro dele e muitas vidas foram perdidas ou simplesmente destruídas pela truculência daqueles que teoricamente estão nas avenidas e ruas de todas as cidades para nos proteger. Bom, todos sabemos que a banda nem sempre toca conforme a música.
Mudaram os anos (essa composição é da década de 80), mas a sanha assassina, de mostrar poder e abusar do poder estabelecido já vem de longa data e só tem piorado nos últimos anos, com a aliança feita a olhos vistos entre os nosso grandes heróis e os maldosos bandidos, com quem trocam tiroteios nas favelas nas horas de tormenta, mas com quem algumas horas depois a camaradagem se reinicia e todos vão tomar sua cervejinha felizes da vida, como se nada estivesse acontecendo em nossa sociedade e principalmente como se não fossem de lados opostos. Que tempos conturbados os nossos, em que não sabemos nem ao menos em quem confiar!
Sim, o salário destes profissionais é irrisório. Ah, as suas condições de trabalho também estão aquém das expectativas. É, devemos lembrar que nossa justiça é contraditória e só beneficia os privilegiados economicamente. E os pobres defensores da lei não possuem ao menos armas que façam frente aos poderio armamentista dos seus adversários, ou colegas, ah, que confusão!
Apesar de todos esses problemas, o que mais pesa na balança mesmo é a corrupção que impera no meio policial e o abuso de poder cometido por eles, aliás, em larga escala e que não escolhe sexo, raça, credo, cor ou situação financeira.
Estamos no final de ano. Os pobres policiais precisam ganhar sua caixinha de Natal. Eles também tem de comprar o seu peru, comprar um bom presente para suas esposas, quem sabe mesmo comprar um sofá novo para suas simples casas de periferia? E não é necessário discorrer a quem recorrerão quando suas fúrias aumentarem e a ganância falar mais alto do que a real função desses trastes na sociedade. Sim, a nós mesmos. Você, que declare ou não imposto de renda, que agora paga preços absurdos pelo quilo do pão, que vai começar a se preocupar com o IPVA de seu automóvel no início do ano. Sim, você mesmo, microempresário, que é acharcado com a excessiva carga tributária desse país e que enfrenta uma via-crúcis quando empreende e pretende abrir seu próprio comércio. Vale lembrar que muitas vezes a demora em receber o alvará de licença é tanta que a pessoa abre suas portas mesmo estando sem a asa protetora do Estado. Cuidado, vocês são vítimas em potencial dos nosso bravos heróis. Quem sabe, qualquer dia desses eles lhe convidem para um amistoso cafezinho e te peçam uma módica quantia, em troca de um período de calmaria e mesmo uma licença conseguida às pressas em nossas eficientes repartições públicas?
Tenho uma mentalidade um pouco anarquista, mesmo conhecendo pouquíssimo sobre o assunto. Mas de qualquer forma não aceito ser regido por uma classe maldita e indigna, que se vale do seu poder para humilhar, destruir e pisar quaisquer pessoas que estejam na mesma calçada que eles. Por favor, tranquem-nos em uma jaula. Queimem os quartéis. Afundem os navios. Façam cair os aviões da Aeronáutica. É tempo de mudança. Se você não está satisfeito com a defesa que essa nação nos oferece, criemos a nossa. E que um dia não fiquemos temerosos ao ouvir aquela calorosa sirene, com a viatura cantando pneus pelos logradouros de nossas cidades. Depende de nós, também.

4 comentários:

O Sanatório Geral disse...

Xará, mais uma vez vc fala o que muitos deveriam ouvir e entender! Esse seu xará aqui é fã da sua intelectualidade.

Quero ser Edcarlos quando crescer!!!

Anônimo disse...

eu tbm quero ser Edcarlos quando crescer!!!

Anônimo disse...

Muito bom Mestre! Tá muito bem escrito esse texto seu, assim como todos os outros que eu já li e o que ainda vou ler...rs
Vejo as palavras em seu devido lugar, não tenho muito a dizer sobre o assunto porque não sou muito ligada nessa coisa de sociedade. Mas não me considero burro...rs É que prefiro não opinar, quando o assunto é sociedade.
Forte Abraço!

Anônimo disse...

Poxa Ed...
foi-se longe o tempo em que a campanha era:
Se você tiver algum problema,procure um policial.
A confiança era total,não sei quando o elo se quebrou...
porem hoje em dia fugimos deles infelizmente,de ambos os lados só existe olhares desconfiados;
talvez esse elo perdido não será recuperado,os tempos são outros e a cada dia que passa só tende a aumenta-lo.
É a triste realidade escancarada em nossa frente,salve-se quem puder.