Pois é, chegamos a 2007. Nostradamus disse: a 2000 não chegarás. Mas fomos teimosos e insistimos, tanto que estamos, da mesma forma como o ano passado, retrasado, 1990, 1815, 1622, 1980: esperamos com ansiedade o porvir. Pularemos sete ondas, assistiremos à queima de fogos, comeremos lentilha, vestiremos roupas brancas, faremos mandingas, e muitas tantas promessas que somente serão a reprise do ano anterior: esse ano eu paro de fumar; ah, agora eu começo aquele curso de espanhol; vou emagrecer esses 5 kg em 2007, vou me dar melhor com meus vizinhos.
Fazemos planos, sonhos, traçamos metas, objetivos, tudo em busca de um ano frutífero, inesquecível, um tempo que ficará marcado em nossas memórias enquanto existirmos. Alguns desses projetos são concretizados, alguns no decorrer desse ano serão iniciados e alguns outros ficarão esquecidos no fundo da gaveta até o próximo reveillon. Muita água ainda há de correr por debaixo desse moinho, já dizia a santa sabedoria popular.
A vida passa, as horas voam, os dias cada vez a velocidade impressionante cismam em começar a terminar sem nossas argutas observações, e os meses se esvaem pelo ralo, até que, lá pelo final de setembro ou outubro, nos daremos conta e discorremos: "Nossa, esse ano está voando, hein? Daqui a pouco já é Natal, tenho de começar a pensar nos presentes ou naquela viagem já tradicional." Nosso companheiro de diálogo apenas indagará com a cabeça, em consentimento, ou poderá tecer mais algum comentário sobre o ano a passos largos findos.
A esperança é intrínseca à condição humana, como já disse outras vezes, e ela cisma em aparecer no meio da festa mesmo sem convite. Grande penetra essa moça bonita, chamada esperança. Ela vem como quem não quer nada, fazendo charminho, tentando comprar o segurança na ânsia de adentrar a comemoração, dá dois beijinhos em cada convidado, vem falar com intimidade desmedida com o anfitrião, e vem com aquele embrulho lindo, com uma fita de cor simplesmente lírica, e te dá entrega aquela "bomba" e sai risonha, bebericando champanhe, como se nem estivesse dado as caras ali. Mas ali naquele pacote está toda a nossa vida, ou simplesmente a continuidade dela. Nossa, como a esperança é linda, dizem alguns. Outros torcem o nariz ao vê-la e muitos simplesmente não se apercebem daquela moça que irradia a todos com seus risos pouco comedidos.
Em 2007 continuaremos a crer em algo, reformularemos novas idéias, seremos mais gente. Enfim, cada um viverá de sua forma única e especial. Tristezas, alegrias fazem parte da nossa trajetórias 365 dias por ano, e muitos continuam se achando os senhores dos seus destinos, isso e desde o início da humanidade. Planos, eu também faço, sou humano tanto quanto todos os outros, por mais que muitas vezes aflore mais o meu lado animal. Eu acredito no destino, acredito que ele rege o universo e os seres que nele habitam. Todas as nossas circunstâncias serão guiadas por essa pequena palavra de significados diversos. Pode ser na borra de café, nos búzios, na quiromancia, etc., mas nossos passos são guiados por uma força maior, que os homens ainda não conseguiram identificar, não sei se por incapacidade ou medo da verdade mesmo.
2007 não bateu na nossa porta, ela simplesmente invadiu o recinto. Mas sua presença nos trouxe a seguinte certeza impressa em sua camiseta branca: Al Maktub (está escrito).