Ontem reencontrei um quase xará (Ed Carlos). Pois é, existem outras pessoas com nome semelhante ao meu, espalhados por esse país de dimensões continentais chamada Brasil. Provavelmente existirá algum outro Edcarlos na Libéria ou mesmo no Nepal? Não se sabe. E ainda são permitidas variações: Edcarlos, Ed Carlos, Edicarlos, Edi Carlos. O cardápio é variado. O naturalista não deixa de fazer seu pedido por não achar um prato que não esteja a seu gosto. Sempre tive de repetir meu nome no telefone, corrigir alguém que porventura venha a escrever o meu nome, nunca tive outro colega na escola com o nome igual ao meu, nunca tive de perguntar qual Edcarlos procuravam ao ouvir meu nome sendo pronunciado e na lista do concurso tinha a vida enormemente facilitada ao não ter muitos xarás com quem dividir o cargo preterido. Também posso mudar de nome, de acordo com o ouvido do transmissor da mensagem: já me chamei Edgar, Eduardo ou mesmo Ricardo. Ou seja, momentaneamente alguma pessoa teve a ousadia de mudar a minha história de vida. Ou você acha que se eu não me chamasse Edcarlos a minha vida teria sido a mesma coisa? Bom, a grande maioria das pessoas me chama de Ed, e quando alguém me chama pelo nome completo instantaneamente me sinto como uma criança que é surpreendida puxando o rabo do gato ou enfiando o dedo na panela onde tem água esquentando. Me sinto ofendido ao ver meu nome pronunciado em alto e bom som: E-D-C-A-R-L-O-S. Não existe palavrão maior, esse nome deveria ser proibido assim como as palavras de baixo calão e partes íntimas mostradas despudoradamente na novela das oito.
Bom, não possuo tantas semelhanças físicas nem psicológicas com esse meu xará, se bem que existe um ponto que nos une; ou melhor, une a todos nós: a essência da inconformidade, por mais que ela esteja adormecida em alguns. Vi nele um brilho estranho no olhar que eu não havia visto há três anos atrás, na primeira vez que o vi. Diria que são olhos de ressaca, de inconformidade, de tristeza, e sobretudo, de desesperança pela reviravolta a qual tem passado com frustrações contínuas pela vida. Mas ele não é o tipo da pessoa que expressa verbalmente as suas necessidades, medos e pudores. Mas o olhar é o espelho da alma, já diriam alguns. Não ser explicar o que constatei, apenas sentir e perceber que por trás daquilo existia um grande vazio que buscava ser preenchido pelas atividades religiosas praticadas com afinco, como se Deus fosse a justificativa para todos os perrengues.
Já eu nego todas as formas divinas pré-concebidas pelos homens e não creio que tenhamos evoluído tanto assim a ponto de dar respostas a questões tão complexas quanto a nossa espiritualidade. Assuntos como reencarnação, céu e inferno, morte, pecado, punição, dogmas, sexo pré-marital podem dar margem a vários questionamentos que são levados em conta de acordo com a vivência espiritual de cada um, e não posso afirmar que X seja a expressão de pensamento correta, em detrimento de Y. Até porque no início da humanidade as civilizações foram politeístas, não possuíam explicações científicas o suficiente para expressar Deus, sendo assim a divindade poderia ser qualquer coisa palpável ou que provocasse medo ou admiração. Não podemos dizer que eles estavam equivocados, sendo que as crenças religiosas naquela época nada mais foi do que a expressão do tempo em que se vivia. Não é à toa que vivemos a proliferação da religião evangélica nos grotões do país. Em uma época em que o Estado se ausenta de fornecer as premissas básicas de infra-estrutura, só resta à população o milagre divino na busca de um paraíso terreno.
Enfim, ao olhar para o meu xará e seu estado atual, não tive como não deixar no ar mais perguntas, algumas respostas até, e o olhar perdido a procurar: que força é essa que é capaz de nos levar e nos tirar da letargia, de nos mostrar o céu e o inferno em pouco tempo? Em quem ou no que nos agarramos nas horas em que nos vemos sozinhos, nus no meio da multidão, com pontos de interrogação que substituem pessoas, prédios e postes? Ali eu vi um grande espelho, fosco até, porque ele não mostrava a minha fisionomia nem a dele, mas sim algo além. Eu percebi que somos muito diferentes. Jõões, Marias, Josés, Marcos, Antônias, enfim, você e eu, o vizinho, o mendigo, a vendedora, a dona-de-casa, todos nós. Uma hora a máscara que seguramos sem perceber vai teimar em cair ao chão, e nessa hora seremos sacudidos e estapeados abruptamente, porque chegou a hora de enfrentar a verdade. Não sabemos quem somos, nem se somos algo. Mas a dúvida surgirá em algum momento. E aí é que a porca torce o rabo.
2 comentários:
Salve, xará... pois é.. já conversamos sobre nosso nome e as opiniões que temos em comum... Se não gostamos das mesmas coisas, pelo menos odiamos as mesmas coisas... Mas como eu falei a vc, tudo isso que o nome nos "favoreceu" depende do seu olhar. Eu sempre olhei com bons olhos, as vantagens de ter um nome "diferente"; vc já olhava com desprezo, não gostando da exclusividade!!! Mas o que importa mesmo é o que somos, o que pensamos e o que fazemos com tudo isso. O nome só serve para chamarem a gente ou assinar prova de escola...
Um abraço
Edcarlos
Caramba achei estranho...
não imaginava que o nome Ed Carlos fosse tão distinto assim,um dia você havia comentado sobre isso,não me dei conta até porque conheci um Ed Carlos na adolecência e nunca achei um nome estranho,
esse amigo de que falo é um maluco beleza um hippie dos tempos modernos,uma figura adoravel,apesar dele estar morando muuuito longe ainda mantemos contato nos gostarmos de montão,
quando te conheci Ed seu nome já me era familiar...
o que não contava era com uma amizade legal e um gostar tanto de ti,com certeza a amizade é reciproca,
concluindo,os dois Ed Carlos da minha vida me adoram,sinto isso,
de minha parte,adoro a amizade dos dois Ed Carlos da minha vida
hehehehehehehehe
ah!!!será que é da natureza dos Ed Carlos da vida escrever?
meu amigo é poeta...
bjãoooo
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