sexta-feira, novembro 13, 2009

Cinema para todos


O preço do ingresso no cinema é absurdo, caríssimo para meu módico poder aquisitivo, inviabilizando a sétima arte para boa parte das pessoas que gostariam de ter a oportunidade de frequentá-lo ao menos de vez em quando. Principalmente em tempos comandados pelas grandes cadeias como Cinemark, Severiano Ribeiro, UCI, Moviecom e afins. Praticamente parques cinematográficos encravados nos shoppings center de decoração duvidosa. Diria eu, em tom baixo com medo de cruzar acidentalmente com o responsável por tal poluição visual, que o melhor do cinema não seria, sob hipótese alguma, seus adornos e estilo. Muito menos as pipocas e demais guloseimas vendidas no balcão ao lado a preços também não muito convidativos: Senhor, deseja pipoca de tamarindo com molho de groselha ou de groselha com cor de tamarindo?

Pois bem, mas para a salvação daqueles que ainda acreditam que nossos bisnetos não verão tantas atrocidades à língua-mãe cometidas nas provas de Ensino Médio, existem, em alguns locais, projetos que visam levar cinema grátis para as pessoas que não teriam condições de conhecê-lo caso tivessem de pagar por ele. O SESI aqui do Estado de São Paulo é um ótimo exemplo, levando música, teatro e cinema de altíssima qualidade a custo zero. Pena que não em todas as unidades paulistas, mas de qualquer forma Santos é uma das cidades em que tais projetos existem.

Para minha sorte, moro a poucos minutos de caminhada da unidade da minha cidade. Sendo assim, alio meu bolso de parco erário com o acesso privilegiado a bens culturais raramente existentes em outras circunstâncias,e lá estou eu no SESI, assistindo um filme brasileiro chamado Nossa Vida Não Cabe Num Opala. Não me apedrejem nem me mandem plantar psicotrópicos nas serras colombianas pois nosso cinema, apesar das cenas de sexo fora do contexto e forçadas, tem alguma qualidade.

Percebi na platéia muitas pessoas humildes que suponho não serem telespectadores assíduos das salas cinematográficas, e espero que não esteja sendo preconceituoso deduzindo isso apenas pelo aspecto físico e de vestuário dessas pessoas. Mas fiquei muito entusiasmado de saber que o pessoal, tendo chance, proximidade física ou custo baixo, não se roga a conhecer bens culturais fora do seu dia-a-dia. Mesmo que muitas pessoas ali estivessem mais interessadas no cafezinho servido ou em rir nas partes que julgo eu dramáticas, ao menos começa a se formar uma platéia mais consciente, com um pouco mais de conhecimento, enfim, que, tendo a oportunidade, vai sim conhecer e participar de situações novas.

Talvez seja ingenuidade minha, mas seria tão bom se eu chegasse um dia qualquer à sala de teatro do SESI ou de alguma instituição com projetos semelhantes, e me deparasse com uma fila imensa, com direito a vendedores de Tampico e água da bica. Eu até tomo um Tampico de Laranja com Acerola, mas em compensação eles tem de me contratar para a análise do repertório a ser exibido.

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