terça-feira, fevereiro 20, 2007

Eitaaaaaaaaaaaaaa


Uma madrugada dessas, estava zapeando pelos canais da televisão e me deparei com um programa na Multishow que nos mostrava uma nuance antropofágica, falando metaforicamente ou literalmente, dependendo do ponto de vista do telespectador. Um inglês nos levava a conhecer as benesses das mulheres brasileiras, especialmente no nosso grande cartão-postal, a Cidade Maravilhosa de encantos mil, coração do meu Brasil. Cena 1: em uma sugestiva butique de biquínis chamada "Bumbum" no bairro de Ipanema, moças pudicas desfilavam com trajes contendo pouco tecido nas quais sobrava espaço quase nulo para a imaginação masculina. Provavelmente essas mulheres achavam que estavam se submetendo a algum exame ginecológico de grande profundidade. Enquanto elas saracoteavam pelo local, esse moço acima citado exaltava as qualidades glúteas de nossas mulheres. Cena 2: o "repórter" fazia um tour noturno pela noite carioca, em especial na famosa Avenida Atlântica, ressaltando que os turistas tivessem cautela ao se depararem com uma mulher. Ela poderia ser um simulacro de uma representante do sexo feminino, a chamada travesti ou traveco, de modo pejorativo. Na cena seguinte, era focalizada uma moça inteiramente nua em um palco de uma casa noturna dançando freneticamente ao som da música e provavelmente extasiada por estar sendo focalizada por uma câmera televisiva. Cena 3: surge em cena um estrangeiro cuja nacionalidade desconheço que mora no Brasil há alguns anos e sobrevive aproveitando esse potencial econômico que o Brasil oferece. Ele se encarrega de "vender" essa boa imagem de nosso país a turistas das mais variadas nacionalidades, sendo que faz parte do pacote buscá-los no aeroporto e integrá-los à nossa vida cotidiana, os indicando e ensinando como agir em busca dos seus mais variados desejos carnais. Como se o brasileiro vivesse na esbórnia cotidianamente, nas ruas e praças despudoramente. Ou seja, ele faz turismo sexual e não faz questão de esconder de onde provém seu sustento, e também comenta que um programa no nosso país sai mais em conta do que na terra de origem dos seus clientes. Até onde vão meus parcos conhecimentos do direito brasileiro, explorar a prostituição é delito passivo de punição, mesmo que eu não saiba quais seriam estas. Cena 4: esse mesmo estrangeiro leva a equipe de filmagem até uma casa chamada "termas", onde mulheres se agrupam sensualmente, em trajes menores oferecendo o que de melhor tem e ressaltando suas qualidades com atitudes lascivas como lamber os seios e beijarem-se mutuamente.
Posso parecer ridículo ao me surpreender com tais cenas ou mesmo ser indagado sobre a minha orientação sexual ao me indignar com mulheres que são tratados como objeto de consumo, que podem ser adquiridas como uma pasta dental ou uma esponja de aço. A questão não é se eu não gosto de ver uma mulher trajando biquíni. Obviamente eu adoro, mesmo que o importe mais para mim não seja a quantidade de silicone que ela colocou em cada seio, por mais que falar isso caia na questão do "o importante para mim é a beleza interna", por mais que eu não faça questão de ver os rins dessas moças. Mas não consigo deixar de coçar a cabeça em sinal de preocupação ao pensar que agora uma menina de 11 ou 12 anos possa estar se vendendo a um turista holandês em algum quiosque da praia do Futuro, em Fortaleza, ou mesmo de alguma mulher responsável pelos seus atos em alguma boléia de caminhão trabalhando em troca de um mísero prato de comida em algumas de nossas rodovias federais espalhadas país afora, mesmo que seja na Grande São Paulo, a tão aclamada terra das oportunidades. Os exemplos são meramente ilustrativos, a prostituição está arraigada do Rio Grande do Sul a Roraima, nas metrópoles e nos grotões do país.
Se o nosso país não consegue vender uma imagem que vai muito além das suas mulatas, é sinal de que alguma coisa está muito errada e os valores estão invertidos. Poderia citar n exemplos de mulheres que se destacaram no nosso país por quesitos que não resvalam no local situado entre suas pernas. E não estou falando da Deborah Secco muito menos na Adriane Galisteu. Continuo acreditando em um país que ofereça opções para essas mulheres e homens, que eles possam encarar a prostituição como uma opção, e não como uma obrigação. E somente uma educação que inculque consciência crítica nos seus cidadãos pode reverter tal quadro. Eu não condeno a prostituta, mas sim o sistema social que a leva a seguir por esse caminho. Enquanto isso, nas calçadas e casas da luz vermelha, mulheres levam seu cliente para um local mais reservado a fim de venderem sua mão-de-obra.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

O amor é uma flor roxa que nasce no coração dos trouxas


Falar de amor é um assunto complicado quando não se sabe como lidar com o assunto e principalmente quando se é bloqueado para esse tipo de determinismo biológico. Me refiro obviamente ao amor entre duas pessoas adultas, não o amor que um pai possivelmente sente pelo seu filho ou o amor daquele que finalmente consegue comprar seu automóvel parcelado em 48 x pelo banco Finasa, que aliás cobra juros exorbitantes e ao final da dívida se terá pago o valor de dois carros.

Fala-se muito nele mas se tem poucas conclusões do que realmente seja o amor. Nem mesmo a ciência pode nos dar uma dimensão exata do que seja definitivamente esse assunto tão comentado em todas as rodas de conversa, desde as rodas de pagode da periferia até a conversa de madames enquanto esperam para ser atendidas nos cabeleireiros mais chiques do bairro dos Jardins. É o tipo do sentimento que não consegue ser descrito objetivamente, como a sede, o ódio e o desprezo, por mais paradoxais que sejam os exemplos citados. As letras de músicas, as praças das pequenas cidades, os programas de televisão, as revistas dirigidas às donas de casa e adolescentes do sexo feminino, os jardins da praia de Santos; enfim, esses e outros exemplos são convidativos para a contemplação e prática do amor. Ah, o amor, que adquiriu e tem visões diferenciadas ao longo da história. Atualmente aquela tia que você não vê há cinco anos e reencontra naquele chatíssimo almoço em família te pergunta da noiva(o), namorada(o) ou ficante, e muitas vezes só nos resta fazer aquela expressão de muxoxo e dizer que se está sozinho, mas não por muito tempo. O ser humano tem medo da solidão e se desespera ao pensar na possibilidade de passar mais tempo desacompanhado, sem o famoso cobertor de orelha.

Todos nós temos nossas histórias de amor para contar, obviamente com os finais tão diferentes quanto a nossa imaginação conseguirá acompanhar. A impressão que me passa é que essa massificação do termo amar esconde um problema muito mais sério, o de desviar a atenção da sociedade para o que é realmente relevante. Me vem à cabeça o caso do menino carioca que foi arrastado por 7 kms até a morte, no Rio de Janeiro. Nem é necessário comentar o quanto é apavorante que isso aconteça com um adulto, quanto menos com uma criança. Manifestações em prol de paz e amor estão pipocando país afora, como se velas acesas realmente adiantassem alguma coisa para a elucidação da questão. Pessoas usando roupas brancas para simbolizar a paz, fazendo com as mãos uma imagem parecida com a da pomba, desejando uma sociedade com mais paz e amor com seu semelhante são pura demagogia, por mais que os praticantes de tais atos sejam pessoas bem-intencionadas, que apenas se deixam levar pela emoção. A questão é muito mais profunda e exige atitudes muito mais vastas do que andar de mãos dadas pela rua cantando músicas amorosas em coro exigindo algo que na realidade não se procura concretamente. Parece-me que em tais casos o romantismo serve como fachada para uma questão muito mais complexa do que uma jovem abandonada pelo namorado após um ataque de ciúmes.

Na verdade a minha intenção não era falar acerca do amor em tais circunstâncias, pois o objetivo principal era escrever uma história açucarada para a minha prima Luciana, mas eu não consigo ter um roteiro pré-determinado do que conterá no que escrevo. As palavras simplesmente fluem e quando vejo sou um mero brinquedo sendo jogado pelas suas mãos afoitas em viver no mundo exterior. Mas claro que uma moça de vinte anos como ela tem suas histórias de amor pra contar, sendo que uma delas teve como fruto uma linda menina que tem atualmente aproximadamente 01 anos e seis meses,a Maria Clara, que dorme enquanto sua tia não dá seus gritos desesperados quando algo não está a seu contento. Só sei de informações esparsas sobre o assunto, que sozinhas não me dão grande embasamento para escrever um folhetim à la Manoel Carlos. Não vi a reação da sua mãe quando descobriu a gravidez dela. Como será que o namorado dela se sentiu ao descobrir que seria pai? Como foi o olhar de Luciana ao ver sua filha pela primeira vez? Eu não presenciei tais cenas, sendo assim seja incapaz de descrever as palavras a realidade dos fatos. Acho que talvez eu não seja um contador de histórias. Provavelmente eu sou um Inri Cristo.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Comunismo, socialismo ou algo que o valha


"Aquele que botar as mãos sobre mim para me governar é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo." (lema anarquista)
Tudo bem, eu sei que o Muro de Berlim caiu em 89, A Revolução Russa de 1917 foi um fracasso, a União Soviética não existe mais, a Tchecoslováquia já se desmembrou, Che Guevara foi assassinado há quase quarenta anos, a China abre cada vez mais sua economia para o capital externo (leia-se em grande parte advindo dos EUA, aqueles mesmos do Ronald Mc Donald´s), a Guerra Fria já é um termo estranho para quem tem mais de trinta anos, os únicos países socialistas que ainda resistem, mesmo cometendo graves erros são a Coréia do Norte e Cuba; e não estamos mais nos anos 60. Mas eu continuo sim acreditando em uma revolução social onde as desigualdades sociais sejam extintas e não exista mais a escravidão disfarçada como emprego informal e mesmo formal.
Entendo pouco sobre a teoria do Comunismo, nunca li Marx e só conheço Engels mais de nome. Os outros teóricos então me são praticamente estranhos. Confesso que para falar de um assunto é necessário que eu me aprofunde bem mais e saiba discorrer sobre ele com conhecimento de causa, o que não é o que ocorre nesse momento. Mas de qualquer forma preciso falar sobre o que acredito ser uma das maiores necessidades da sociedade contemporânea, assim como já era no início do século XX e que por motivos diversos ruiu, seja por incompetência dos seus administradores ou mesmo equívocos na construção dos dogmas socialistas.
Em Israel existem os kibutz, que são cooperativas agrícolas em moldes coletivistas, nas quais a comunidade vive em um local geralmente desértico, devido às condições climáticas do país, em um local com a estrutura de uma pequena cidade, fora a parte agrícola, onde a população planta o necessário à sua alimentação e vende o excedente, com uma tecnologia das mais modernas, se utilizando inclusive de maquinários "top" de linha e mão-de- obra especializada. Nesse local de experimentação da vida do homem visando a satisfação do coletivo em detrimento do indivíduo, o trabalho de um engenheiro é tão valorizado quanto o de um jardineiro e as diferenças salariais são irrisórias. Sendo assim, o nível de vida das pessoas das mais diferentes especialidades são equivalentes. Ali todos trabalham durante o dia na lavoura e fazem as refeições coletivamente, sem segregação de faixa etária, sexo, profissão ou quaisquer outra diferenciação. As crianças desde cedo frequentam a escola da comunidade, aprendem as tarefas domésticas de acordo com sua idade e desde cedo são ensinadas a pensar no coletivo, sendo que todos os equipamentos da escola são para todos. Todos os moradores do kibutz tem uma espécie de guarda-roupa gigante, sendo que todas as peças ali encontradas são para o uso de todos os que ali vivem. Não adianta uma criança chorar por uma mochila nova, pois o produto será lhe fornecido conforme as suas necessidades, não seus caprichos pessoais. E é interessante ressaltar que eles buscam se distanciar da sociedade de consumo a partir do momento em que rejeitam os apelos dos meios de comunicação para comprar artigos que não lhes são necessários naquele momento, mas lhe fornecem uma espécie de status pela sua aquisição e poder. Os adolescentes possuem uma espécie de alojamento especial e possuem algumas regalias especiais, como o não cumprimento de algumas regras relacionadas a horários e a liberdade de usar os automóveis da comunidade. A partir do momento que um novo membro passa a adentrar os limites do kibutz, todos os produtos encontrados com ele, incluindo um provável automóvel, passam a fazer parte da coletividade e servem a todos. Interessante ressaltar que o kibutz costuma reservar parte dos seus lucros para financiar os estudos de alguns dos seus moradores, e, se o número de candidatos ultrapassar a reserva financeira, é realizada uma assembléia para discutir quais dos candidatos poderão prosseguir seus estudos subsidiados pelo kibutz. O aluno tem a total liberdade de escolha da carreira que deseja seguir, mas sabe que deverá ser útil à comunidade com seu diploma e ajudando na construção de um bem comum.
Não sei dizer se um sistema desse tipo funcionaria em um país como o nosso, de 180 milhões de habitantes e interesses maiores para a perpetuação de um sistema social que privilegia uma elite realmente minoritária, em detrimento de uma imensa parcela da população despossuída de quaisquer condições mínimas de bem-estar e infra-estrutura adequada. Não consigo aceitar uma Daslu, em que uma simples calça possa custar um preço de mais de três dígitos, e pessoas que vivam com menos de R$ 1,00 diários para satisfazer suas necessidades básicas. O que digo pode cheirar a demagogia barata, mas não me veja dessa forma. Sou simplesmente um idealista que acredita na arte e cultura como ferramenta de transformação da sociedade. Um país sem educação nunca mudará suas estatísticas sócio-econômicas. Um Brasil que é regido pela elite, pagando salários paupérrimos à grande maioria dos seus trabalhadores e enchendo as contas bancárias de seus patrões às custas do suor alheio não pode ser aceito passivamente. O Brasil que não concluiu ainda sua reforma agrária e possui hectares e mais hectares de terras improdutivas onde a única coisa que cresce é capim, com milhares ou mesmo milhões de seus habitantes vivendo em periferias sem saneamento básico não pode ser encarado como coisa normal.
Não deixe de se indignar toda vez que vc ler nos jornais uma notícia escandalosa, como as que nos deparamos diariamente nos veículos de comunicação. Não diga que os políticos são os únicos culpados pela nossa situação atual, pois fomos nós que os elegemos. E se eles não cumprem sua premissa de nos servir, tomemos o poder então. Um povo sem governantes e sem o cerceamento de sua liberdade de expressão. Hoje, o prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, chamou de vagabundo um homem que desabafou ter ficado sem seu meio de vida quando a Prefeitura de São Paulo baixou um decreto proibindo toda e qualquer veiculação de publicidade na cidade, deixando assim á mercê da fome muitas e muitas pessoas que sobrevivem disso. Amanhã o humilhado será você. Se já não foi. E aí, vamos pegar em armas e reconstruir essa nação ou vamos continuar servindo aos mandatários do poder?