quarta-feira, novembro 29, 2006

Doces ou travessuras?



Não posso culpar os demais pelo meu fracasso, atribuir culpas inexistentes a terceiros, segundos e quartos. Eu fui o grande responsável pelos meus erros praticados desde a mais tenra idade. Quais seriam esses tão graves erros? Nem eu sei explicá-los muito bem, apenas senti-los e culpar-me por eles, que me sufocam e fazem com que eu olhe o espelho como meu eterno inimigo e a eu mesmo como raiz dos males mundanos. Mas não somente os do mundo exterior, mas os meus. Estes são os quais mais me atormentam, são estes que não me deixam dormir, por mais que bote a cabeça no travesseiro e tente fechar os olhos, assim procurando ausentar-me do meu corpo terreno e alçar vôos nos quais a minha existência é menos insossa e maldita.
São eles que me fazem encarar a aurora como mais um tormento, ou seja, mais um dia que se inicia. O amanhecer é perverso.
Como já disse, as palavras me faltam, só sei percebê-las, como uma espécie de máquina de choques e torturas das mais diversas, aplicadas por eu mesmo. Eu sinto, apenas isso. Já me é suficiente esse castigo. Poder exprimi-las me seria de grande valia pois assim acredito que seria menos inútil, pois poderia propalá-las aos quatro ventos: Olhem, eu existo, por mais que queriam fechar os olhos e negar o meu nascimento. Não fui o ideal buscado pela maioria. Não tive um bom emprego, não me formei, não constituí família, muito menos tive filhos, não contribuí para a Previdência Social, não comprei meu apartamento nem ao menos financiado pela Caixa Econômica, não abri conta em banco, não tive um bom relacionamento com o meu próximo, não passeei no shopping de máos dadas com a minha namorada no domingo á tarde, não mexi com as gostosas de calça apertada que passavam ao meu lado, não comprei revista de mulher pelada, não tive histórias escabrosas para contar na mesa do bar, enfim, tudo isso e mais alguma coisa.
Sim, eu não fui o ideal de ser humano. Porque eu não ando de cabeça erguida pelas ruas, pelo fato de não ter vencido na selva de pedra forjada por nós mesmos. Eu sou a prova de que nem tudo são flores e sorrisos de crianças no jardim. Eu não me adaptei ao sistema, sempre estive à margem dele, fazendo sei lá o que. Nem ao menos isso sei solucionar. Só sei que não dei certo em nada na vida, e também não sei porque teria dado, nem em que haveria de prosperar. Pois é, não sei de nada. Só sei que respiro. Enquanto respiro, me angustio. Enquanto me angustio, questiono. Enquanto questiono, me aflijo. O ciclo não se fecha nunca, a roda da vida ou morte continua a girar incessantemente, seres nascem e morrem a todo instante. E nem sei se isso que escrevi é realmente o que penso ou se foi fruto de uma noite mal-dormida. Também não me pergunte o que respiro. Não sei nada de química...
OBS: Foto extraída do site http://www.usina.com/solo

sábado, novembro 25, 2006

Menino, larga desse videogame e vai estudar!


"Não é fácil escrever. É duro quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espelhados". (Clarice Lispector)
Tenho de concordar com nossa grandiosa Clarice Lispector, não é simples escrever, é extremamente penoso e mais cansativo do que supõem alguns. Até porque esse ato não é feito de forma aleatória, quando se bem entende, não se escolhe ter ou querer escrever como se tivéssemos de ir escovar os dentes ou chupar uma bala em uma hora determinada. Ao mesmo tempo em que isso se torna uma missão, é na mesma medida um fardo muitas vezes pesado de se carregar, apesar de prazeroso e reconfortante. Porque expressamos com as palavras uma gama de sentimentos que nos arrebatam e não conseguimos expressar pela via oral. Não que ela seja feita em sua plenitude na sua escrita, mas devemos tentar, sempre, incansavelmente, mas a palavra tem vida própria e não se deixa comandar por nós; ao contrário, ela se serve de nós para se fazer ver e sentir, nos momentos predeterminados por elas. Nada mais somos do que apenas seus transmissores.
Não se estuda para ser escritor, ou ao menos tentar ser um; mas não digo com isso que o indivíduo deva deixar de abandonar a sala de aula se sentir que essa é a sua vocação. Existem cursos ligados à escrita, como Letras e Jornalismo, mas eles não formam esse tipo de profissionais, apenas te ensinam as ferramentas de como se servir melhor do uso da palavra nos seus manuscritos. A formação se dá pela vida, nas ruas e avenidas, sentindo e observando o outro, sempre, e lendo muito, sempre, incansavelmente, não importa que sejam livros densos de 1.000 páginas, bulas de remédio ou outdoors. O importante é sempre buscar captar novas mensagens na busca do seu estilo literário, seja ele qual for.
A formação é contínua, incansável, e dolorida às vezes, como se fosse um parto, muitas vezes o texto sai à fórceps, muitas vezes nos surge inesperadamente como um passe de mágica. Escrever é uma espécie de maldição sim, Plínio Marcos já dizia isso, mas em relação aos atores. Ele falava que eles eram malditos porque tinham o papel de representar com seus corpos todas as mazelas e complexidades dos homens. Escritores não fogem às regras. Mas eu acredito que, apesar das adversidades, não há nada tão prazeroso quanto se sentir realizado naquilo que se faz, seja em qual tempo ou civilização for.
O papel é apenas um dos meios das mensagens, a palavra pode se manifestar das mais diferentes formas. Quantas vezes não lemos algo e nos colocamos no lugar das personagens, em suas aventuras, medos, descobertas, atos cotidianos, até torcemos por eles como se não fossem seres inanimados. Projetamos no papel tudo aquilo que ansiamos, mesmo inconscientemente, queremos dividir o nosso eu com os demais, queremos sempre reinventar a ordem estabelecida. O importante é se comunicar, apesar de saber que a mensagem sempre chegará distorcida ao destinatário. Ossos do ofício, meu caro Watson.
Jorge Amado entrava em depressão quando terminava suas obras, pois durante meses a fio aquelas personagens habitaram seu lar, fizeram parte de sua vida, ele narrava os acontecimentos delas durante as refeições. Machado de Assis pegava mais papel e escrevia cartas aos amigos e contava sobre suas obras. Enfim, as reações são as mais adversas. Mas escrever são os dois lados da moeda, santo e profano ao mesmo tempo. Está no sangue, na essência. Quem vive essa mesma realidade sabe do que eu digo. Porque no fundo não são apenas letras juntas que formam palavras, é toda uma experiência de vida contida ali. Sou eu, são vocês, somos todos nós. Quem faz disso seu modo de ganhar a vida sabe que o mais importante não é o dinheiro no final do mês, mas os demônios exorcizados. Fazemos terapia de graça. E ainda somos remunerados para isso. Somos todos e nenhum ao mesmo tempo. Somos o operário e seu patrão, a madame que faz compras na Oscar Freire e a moradora de Heliópolis, o pescador do litoral cearense e o executivo de Belo Horizonte. Assumimos vários rostos, temos várias identidades, sem que isso implique em falsidade ideológica. Porque na verdade ninguém é o que está escrito na carteira de identidade. Nós somos rastros que vamos deixando pelo caminho, conforme vivemos. Somos um mosaico que nunca se fechará. E o escritor tenta juntar esses cacos. Papel difícil o nosso, não acha?

terça-feira, novembro 21, 2006

Mão na parede


Veraneio Vascaína
Capital Inicial
Composição: Flávio Lemos/Renato Russo
Cuidado, pessoal, lá vem vindo a veraneio
Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com números do lado, dentro dois ou três tarados
Assassinos armados, uniformizados
Veraneio vascaína vem dobrando a esquina
Porque pobre quando nasce com instinto assassino
Sabe o que vai ser quando crescer desde menino
Ladrão pra roubar, marginal pra matar
Papai eu quero ser policial quando eu crescer
Cuidado, pessoal, lá vem vindo a veraneio
Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com números do lado, dentro dois ou três tarados
Assassinos armados, uniformizados
Veraneio vascaína vem dobrando a esquina
Se eles com fogo em cima, é melhor sair da frente
Tanto faz, ninguém se importa se você é inocente
Com uma arma na mão eu boto fogo no país
E não vai ter problema eu sei estou do lado da lei
Cuidado, pessoal, lá vem vindo a veraneio
Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho
Com números do lado, dentro dois ou três tarados
Assassinos armados, uniformizados
Veraneio vascaína vem dobrando a esquina
Veraneio vascaína vem dobrando a esquina
Veraneio vascaína vem dobrando a esquina
Essa música faz alusão ao utilitário Veraneio, que foi fabricado pela GM, antiga Chevrolet, que por sua vez era o carro preferido dos policiais em suas rondas e batidas. Começou a ser utilizado ainda durante o período negro da ditadura militar, quando muito sangue foi vertido dentro dele e muitas vidas foram perdidas ou simplesmente destruídas pela truculência daqueles que teoricamente estão nas avenidas e ruas de todas as cidades para nos proteger. Bom, todos sabemos que a banda nem sempre toca conforme a música.
Mudaram os anos (essa composição é da década de 80), mas a sanha assassina, de mostrar poder e abusar do poder estabelecido já vem de longa data e só tem piorado nos últimos anos, com a aliança feita a olhos vistos entre os nosso grandes heróis e os maldosos bandidos, com quem trocam tiroteios nas favelas nas horas de tormenta, mas com quem algumas horas depois a camaradagem se reinicia e todos vão tomar sua cervejinha felizes da vida, como se nada estivesse acontecendo em nossa sociedade e principalmente como se não fossem de lados opostos. Que tempos conturbados os nossos, em que não sabemos nem ao menos em quem confiar!
Sim, o salário destes profissionais é irrisório. Ah, as suas condições de trabalho também estão aquém das expectativas. É, devemos lembrar que nossa justiça é contraditória e só beneficia os privilegiados economicamente. E os pobres defensores da lei não possuem ao menos armas que façam frente aos poderio armamentista dos seus adversários, ou colegas, ah, que confusão!
Apesar de todos esses problemas, o que mais pesa na balança mesmo é a corrupção que impera no meio policial e o abuso de poder cometido por eles, aliás, em larga escala e que não escolhe sexo, raça, credo, cor ou situação financeira.
Estamos no final de ano. Os pobres policiais precisam ganhar sua caixinha de Natal. Eles também tem de comprar o seu peru, comprar um bom presente para suas esposas, quem sabe mesmo comprar um sofá novo para suas simples casas de periferia? E não é necessário discorrer a quem recorrerão quando suas fúrias aumentarem e a ganância falar mais alto do que a real função desses trastes na sociedade. Sim, a nós mesmos. Você, que declare ou não imposto de renda, que agora paga preços absurdos pelo quilo do pão, que vai começar a se preocupar com o IPVA de seu automóvel no início do ano. Sim, você mesmo, microempresário, que é acharcado com a excessiva carga tributária desse país e que enfrenta uma via-crúcis quando empreende e pretende abrir seu próprio comércio. Vale lembrar que muitas vezes a demora em receber o alvará de licença é tanta que a pessoa abre suas portas mesmo estando sem a asa protetora do Estado. Cuidado, vocês são vítimas em potencial dos nosso bravos heróis. Quem sabe, qualquer dia desses eles lhe convidem para um amistoso cafezinho e te peçam uma módica quantia, em troca de um período de calmaria e mesmo uma licença conseguida às pressas em nossas eficientes repartições públicas?
Tenho uma mentalidade um pouco anarquista, mesmo conhecendo pouquíssimo sobre o assunto. Mas de qualquer forma não aceito ser regido por uma classe maldita e indigna, que se vale do seu poder para humilhar, destruir e pisar quaisquer pessoas que estejam na mesma calçada que eles. Por favor, tranquem-nos em uma jaula. Queimem os quartéis. Afundem os navios. Façam cair os aviões da Aeronáutica. É tempo de mudança. Se você não está satisfeito com a defesa que essa nação nos oferece, criemos a nossa. E que um dia não fiquemos temerosos ao ouvir aquela calorosa sirene, com a viatura cantando pneus pelos logradouros de nossas cidades. Depende de nós, também.

domingo, novembro 12, 2006

Quero ir pra Pasárgada





Vou-me Embora pra Pasárgada (Manuel Bandeira )
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Às vezes tenho vontade de largar tudo, ir para a rodoviária, olhar para seus guichês, pensar naqueles nomes das cidades que provavelmente nunca irei conhecer nem de passagem, tomar coragem e comprar uma passagem para um lugar bem distante, e lá recomeçar a vida, com novo nome, identidade, história de vida, ou seja, recomeçar o que aliás nunca teve início de fato. Mas o fato é que sou extremamente covarde, como na maioria dos tópicos da minha existência. Falta-me o impulso, aquele estampido, o famoso cinco minutos de ousadia e partir nessa empreitada. Mas o fato é que eu penso muito no que farei, ou no que penso que estarei realizando com esse ato.
Sim, porque o praticando reconstruirei uma existência, me desconstruirei, deixarei pra trás muita coisa vivida, para começar da estaca zero. Não digo apenas em deixar familiares e amigos, mas a linha que as liga a tudo isso e muito mais aspectos, pensando que com isso poderei a partir daquele momento fazer diferente do praticado atualmente.
Imagino com isso estar deixando definitivamente no lixo a minha essência, meus ideais, e viver de acordo com o habitual, me atendo somente aos aspectos práticos da vida, como um trabalho rotineiro sem grandes perspectivas de crescimento muito menos realização pessoal, contas de telefone, água e luz, carnês de lojas de móveis e departamentos, impostos do governo, prestações do carro, relacionamentos sérios que implicarão necessariamente em casamento ou na melhor das hipóteses na mancebia, etc. Ou seja, parar de pensar no abstrato e partir para o concreto, o palpável, o visível, ser mais um na multidão e ficar contente em poder quitar o meu armário com suaves prestações a juros módicos.
Negar a tudo aquilo que acredito, perguntar e buscar pelo que me perturba durante horas a fio todos os dias, não me lamentar pela falta de oportunidades na vida para seguir carreira no que realmente almejo e correr atrás da subsistência, pois não há outra solução, amadurecer e deixar de depender economicamente dos meus familiares, parar de sentir medo dos outros e andar de cabeça baixa nas ruas, não se sentir mais um maldito e ter asco do que sou e principalmente do que passo às pessoas, torcer para não encontrar um conhecido pela vida que me venha fatalmente a perguntar o que ando fazendo e eu com cara de tacho ficar sem ter o que responder, fora algumas coisas que não me passam à cabeça nesse momento.
E, principalmente, perceber que não é a cidade aonde moro e por quem nutro uma relação conturbada, que mescla amor e ódio, que é a responsável pelos meus fracassos, mas eu mesmo que não soube o que concretizar na vida. Enfim, me negar, deixar para trás tudo que aprendi e sentar em bancos escolares imaginários e tomar novas lições de cidadania e civilidade, sendo estas aprendidas no cotidiano das ruas e avenidas de alguma cidade desse nosso imenso país.
É aí que me vem a fatal pergunta, a que lugar pertenço, seria Alegrete, Timbó, Pato Branco, Queluz, Varginha, Campos do Goytacazes, Domingos Martins, Xique-Xique, Lagarto, Arapiraca, Cabrobó, Brejo das Freiras, Mossoró, Crato, Piripiri, Codó, Abaetetuba, Araguaína, Calçoene, Caracaraí, Manacapuru, Cruzeiro do Sul, Rolim de Moura, Sorriso, Campo Grande, Anápolis ou Taquatinga ou qualquer outra margeada por algumas das nossas maravilhosas estradas governamentais? Aonde mora a felicidade e o meu eu, que ainda não achei e a quem darei um longo abraço no dia da nosso encontro e vou convidá-lo para sentar em alguma praça pública, e lhe perguntar muito seriamente: "Poxa, por que você não apareceu antes, há anos te procuro!!! Mas nem um telegrama você me mandou para me dar seu paradeiro?" Ao fundo, alguma música tipo Bruno e Marrone ou Daniela Mercury, pois, se vou renascer, preciso deixar para trás meus gostos musicais também, oras bolas.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Senta que lá vem história


Pois é, o nosso querido presidente Lula foi reeleito com grande vantagem em relação ao seu concorrente, Geraldo Alckmin. Sua vitória foi presente sobretudo nos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, e pelo menos aqui na região da Baixada Santista ele venceu nas cidades mais carentes, que por decorrência de tal fato tem maior parcela da população beneficiada pelos já famosos Bolsa-Família, Bolsa-Gás e as demais bolsas, o que deve beneficiar sobretudo os fabricantes de tais acessórios.
A vontade do povo é soberana, já se falava isso no Iluminismo, na Revolução Francesa e em todos aqueles períodos históricos estudados na escola e os quais estamos dormindo, estando impossibilitados de prestar maiores detalhes sobre o fato, eu incluso no povo acima citado. Mas e quem é que pode afirmar que a vontade desse mesmo povo é na maioria das vezes a mais sensata? Alguém que amputa seu dedo em uma máquina de moer cana para solicitar aposentadoria por invalidez ainda jovem e que também recebe uma módica quantia do governo por ser considerado preso político (mas só passou uma noite na cela, isso no período em que ainda era líder sindicalista no ABC paulista) tem realmente a idoneidade suficiente para governar um país como o nosso, de tantas mazelas sociais e arestas a ser aparadas? Sempre lembrando que ele tem orgulho de sua tão propalada ignorância, pois ele brada em alto e bom som que foi o presidente do povo, pois não chegou aos bancos universitários. Ora, todos sabemos que ele não prosseguiu seus estudos no "Sul Maravilha" porque não quis, não por falta de condições.
Não nego seu passado de líder sindicalista, de ser o fundador do primeiro partido de esquerda do nosso país, de ter levado as massas às ruas para clamar pelas Diretas Já, nos idos de 83,84, nem tampouco suas várias chances de chegar à presidência, e que mobilizou a classe pensante da nosso país naquela época e tambem de ter sido prejudicado pelo poderio da TV Globo no famoso debate contra o também candidato Collor em 89, em que suas falas foram editadas de modo que fossem distorcidas.
Mas isso não significa que esse senhor que hoje está sentado na cadeira presidencial, em pleno Palácio do Planalto, admirando Brasília pelos belos vidros do local e rindo deslavadamente da nossa cara de paspalhos, seja um dos seres mais abissal e calhorda que já existiu em territórios tupiniquins.
Lembremos do escândalo do mensalão, dos dossiês falsos, dos dólares na cueca, da Land Rover do Sílvio Pereira, da famosa mansão do pessoal de Ribeirão Preto, dos seus honestos discípulos Severino, Palocci, Duda Mendonça, Dirceu e tantos outros comparsas malditos colocados por ele lá dentro, pouco após sua posse para comandar os desígnios da nação. Enfim, tudo isso e mais um pouco. Que país é esse que perdeu o senso de ética e moral, deixando ser mandado e desmandado por um maldito que fez com que o poder subisse à sua cabeça e inclusive tentasse cercear o direito à liberdade de imprensa, aliás um dos direitos mais sagrados da democracia.
Enquanto isso, o país nada em crescimento econômico pífio, saúde deteriorada, educação sucateada, infra-estrutura de rodovias e ferrovias federais caducas e a espera de um novo apagão, pois nunca mais se investiu na construção de novas usinas hidrelétricas para suprir a necessidade de um país a caminho do desenvolvimento, segundo palavras dele, e outras coisas mais.
E como já disse nosso saudoso Nelson Rodrigues, eu só acredito naqueles que ainda se ruborizam.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Eu


Ah, quem sou eu. Boa pergunta. Sou a síntese de todas as coisas, e ao mesmo tempo o nada. Sou o verão. Sou o inverno. O final, ao mesmo tempo a gênese. Sou o grande, e também o pequeno. O pândego, e da mesma forma o triste. Sou aquele que repudia, mas também quem acolhe. Sou aquele que faz perguntas e algumas vezes as soluciona, mas esta mesmas respostas geram novos questionamentos, o que torna esse ciclo infindável. Sou o inacabado, o mutável, o que todos os dias se transforma em um ser novo, muitas vezes com os resquícios de outrora, até porque a nossa vida é sempre um emaranhado do que vivenciamos anteriormente. Não se forma o homem em um só dia, mas de todos eles. Eu sou aquele que veste a máscara para tentar se esquivar do que é, mas ao mesmo tempo procura tirá-la e enfrentar a realidade, seja ela qual for e que nem ao menos tempo saberia dizer qual seria. Sou aquele que crê nos seus sonhos, mesmo que eles sejam utópicos e banais. Eu acredito na transformação do homem e da realidade a seu redor através da arte e da cultura. Essa é uma das poucas convicções que tenho. O que não significa que ela também esteja pronta, impassível de reformulação. Eu sou covarde, ao mesmo tempo que pegaria em armas para lutar pelos meus projetos de vida. Eu gosto da solidão, mas mesmo assim gostaria muito de estar cercado de pessoas e com elas sempre aprender, interagir, trocar, enfim, descobrir por que vive o bicho homem. Eu sou o paradoxo, da mesma forma que rejeito tal rótulo. Eu sou aquele que não se enxerga na multidão, mas com quem provavelmente você irá cruzar em algum momento de sua existência...