domingo, abril 11, 2010

Algum consolo

Naquela tarde chuvosa, sua lembrança esfumaçada me veio à pele indolente e dolorosa, como uma agulha picando-me o braço. Já sabia que não existia mais o durante, mas me era necessário a recordação do por enquanto. No preciso momento, seu corpo solto em lugar desconhecido me aderia à cabeça como o sal da água marinha naqueles banhos de mar noturnos e solitários. Mas o fruto da imaginação sobrepunha a realidade, sorri eu, entre melancólico e irônico.
Continuar, mesmo assim. Era o que tinha de ser feito. Sem uma segunda alternativa. Mas naquele dia ainda não havia descoberto a fórmula; ainda hoje não a descobri totalmente. A calçada continuava deserta, esperando meu caminhar por vezes vacilante. Eu tinha de andar por ela, ou mesmo escolher continuar estático por tempo incerto, mas o tempo me impelia a caminhar, terno e consolador. Para todos aqueles que sabem o que é o amor em sua via única, arrisco-me a dizer: mesmo que sua delicadeza não tenha tido capacidade de adentrar a alma alheia, guarde-a no fundo da gaveta, pois ela ainda haverá de ser servida. Mesmo que em prazo médio ou longo. Esta não apodrece nem exala mau cheiro. Permanecerá intacta à espera do momento em que finalmente será oferecida a alguém.
Na falta da sua mão, eu mesmo afago meus cabelos com essa idéia consoladora. Pode até parecer frase feita, mas eu não receio parecer banal. A porta continua destrancada, um dia conhecerei o reverso da moeda.