quarta-feira, agosto 22, 2007

Deixe de leseira, seu atoleimado


Pois é, esses dias em que andei muito ocupado deixei de pensar na vida, e tem sido muito estranho ficar horas ou até dias seguidos sem muitos questionamentos que aos olhos da maioria soam como sem pé nem cabeça ou simplesmente coisa de gente atoleimada, como se diz na terra de Gabriela Cravo e Canela. God save Jorge Amado, aproveitando o marketing gratuito do defunto que foi um dos grandes escritores do nosso povo, não dos engravatados paulistanos, mas sim das nossas faceiras mulatas e dos homens pobres que vagavam indefinidamente pela ladeira da nossa tão bela São Salvador.
De qualquer forma, tem sido curioso me despir de um conceito já pré-estabelecido sobre a minha pessoa e me vestir de outras formas, como se eu fosse o bom rapaz responsável que luta diariamente pelo seu pão de cada dia e sua em bicas para poder comprar os produtos necessários à sobrevivência de qualquer cristão. Mas hoje acordei e pensei em como estava sendo diferente a minha vida com pouco tempo para refletir. Nessa correria do cotidiano muitas vezes não nos damos conta de muita coisa que acontece ao nosso redor e a rotina passa a ser predominante sobre a nossa razão, precisamos nos preocupar com aspectos mais relevantes do que com hipóteses apenas remotas e que não pagam as compras no supermercado.
Tenho experimentado novas sessões nessa enorme loja de departamentos que é a vida, provado novas vestimentas e descartado algumas, colocando outras na minha sacola que será esvaziada no caixa. Viver é sentir, mesmo que na carne, é cheirar, tocar, discutir, flanar eelas ruas e sentir em cada rosto visualizado pedaços de nós que vem e vão, que moram em locais diferentes mas que no fundo, na essência, gritam intimamente por algo que não sabem o nome, somente sentem. Não sei explicar o que seria, ultrapassa os meus parcos conhecimentos, mas há algo que pulsa em cada coração, clamando por liberdade, mas é um ser sem nome, identidade definida, ele apenas está lá, esperando algo que o desperte. Mas alguém que o desperte. E sejamos todos apenas mais uma peça nesse grande quebra-cabeça que é o show da vida. Por favor, imagine as dançarinas do Fantástico na frente desse computador e vá fazer alguma coisa que preste na Internet.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Que qui tu qué, rapá? Queima u chão!!!!!!!!!!


Pessoas, pessoas e mais pessoas, é impossível não se deparar com elas ao passear de ônibus e observar a diferenciação física que nos torna únicos. Há alguns dias atrás, estive em Praia Grande, cidade da nossa Região Metropolitana da Baixada Santista. Sim, temos uma Região Metropolitana oficialmente reconhecida desde a década de 90, sem que isso impeça que existam diferenças gritantes entre um município e outro, e obviamente dentro das próprias cidades, senão estaríamos na Nova Zelândia, e não no país da ministra que recomenda-nos que relaxemos e gozemos. E vale lembrar que para estar em Praia Grande eu obrigatoriamente preciso adentrar o perímetro urbano de São Vicente. Os forasteiros geralmente se confundem com os limites entre as cidades. Nessas horas, nada melhor do que um caiçara para lhes explicar que aquela favela é de Cubatão, não Santos, e que aquele hospital que mais se assemelha a um açougue se localiza em Guarujá.
Nessa quase uma hora de viagem de ônibus, como às vezes faço, fiquei visualizando as pessoas que comigo dividiam o espaço físico do coletivo e obviamente as pessoas que passavam nas ruas, imaginando, de acordo com suas características, suas histórias de vida. Tarefa difícil essa. Tantas e tantas vezes me surpreendi fazendo certo juízo de determinada pessoa e após alguns minutos de diálogo descobri aspectos de sua vida muito mais interessantes do que havia imaginado anteriormente. Obviamente algumas vezes me decepcionei, mas são percalços da vida.
De qualquer forma, esse exercício mental como forma de auto-conhecimento é sempre interessante. Tentar não nos ver apenas pela "casca" do corpo físico, mas buscar os sentimentos do homem, sem cair no pieguismo nem na auto-ajuda, que a meu ver é simplesmente irritante e nos reduz a receita de bolo, como se o que valesse para o Cláudio obrigatoriamente seria semelhante para a Jussemara.
Enfim, altos e baixos, gordos e magros, loiros e morenos, feios ou bonitos, somos humanos, e cada qual tem algo a contar, mesmo que seja desinteressante. E se você não estiver gostando da conversa, comece a falar sobre a última gafe do nosso Lula lá no México e verás como tudo vai terminar em grandes risadas de ambos os lados.


domingo, agosto 05, 2007

Desabafo de um desmiolado


Tenho de parar com essa mania de querer forçar os outros a compreender os meus pontos de vista. Afinal de contas, não tenho culpa de as pessoas serem simples burgueses que consideram o mundo à sua volta como pronto, e não aceitarem novas formas de se encarar a vida e suas circunstâncias. Dá muito trabalho refletir sobre o que pode ser mudado acerca de nós mesmos e principalmente sobre o nosso próximo, que na maioria das vezes está em distância relativamente grande. O problema é que não consigo pensar de outra forma e acaba-se em um diálogo à lá Torre de Babel: fulano fala uma coisa, ciclano fala outra diversa, eu então me coloco em situação divergente e acabamos não compreendemos o que é dito e paira sobre nós grandes pontos de interrogação maior do que quando a conversa se inicia.
Não me refiro a nada específico, mas sobre assuntos esparsos que fatalmente poderão ser discutidos tanto numa mesa de bar, como numa roda de intelectuais, assim como também poderá ser posta em voga em um jantar familiar, quando papai e mamãe perguntam aos filhos adolescentes como foi seu dia e então conselhos são fornecidos em larga escala. Mas sinto necessidade de me expressar, por mais calado que eu seja e por mais medo que eu tenha de soltar o verbo e não ser compreendido. Ou muito pior, ser visto como um ser de outro mundo que sofre de graves distúrbios mentais ao opinar sobre a cor do cavalo branco de Napoleão.
- Bota o terno e vai à luta, Ivanhoé.
- Pare de ser sonhador e se preocupe em ter condições econômicas de forrar seu estômago, Valfrido.
Obviamente o que escuto não são frases desse teor, mas de qualquer forma a lógica é a mesma. Não adianta eu dizer que tenho pretensões artísticas e que meu grande sonho é sobreviver dela, até porque sabemos a realidade daqueles que levam à cabo seus ideais nesse quesito. E também tenho de levar em conta se realmente tenho talento para alguma coisa que fuja do velho padrão escritório contábil, ou no caso da cidade onde resido, empresas que lidam com navegação. E como se contentar com um salário no final do mês, carteira assinada, vale-transporte, vale-refeição e cesta básica fosse o suficiente para nos realizar como seres humanos.
Eu lhes digo: - Seus vendidos, joguetezinhos nas mãos dos capitalistas usurários! Mas eles querem apenas ter dinheiro para pagar a conta de luz no final do mês e evitar a nada agradável visita do técnico da CPFL. Ou sou eu que não acordei ainda e não percebi que na realidade todos nós apenas buscamos sobreviver, em alguns casos mal e porcamente, deixando de lado o pouco de vocação que nos resta em detrimento de algum trabalho qualquer que só venha a beneficiar diretamente o patrão e em nada modifica as estruturas sociais?
Sabe de uma coisa? Cansei. Vou beber. Ajudar a aumentar os lucros das empresas cervejeiras. Nem na hora de afogar as mágoas eu consigo fugir do sistema. Eu nem sei fabricar a minha própria cerveja....