domingo, outubro 25, 2009

Sobre o Politicamente Correto

Por essas e outras digo que a inteligência é afrodisíaca, deliciosamente alimentadora da alma. Há de se autovilipendiar, mas com um quê de ironia fina. E isso Dadá Coelho fez maravilhosamente bem. Dadá é humorista e jornalista piauiense radicada no Rio de Janeiro, e há alguns dias foi entrevistada por Jô Soares e seus comentários polêmicos sobre seu estado natal tem provocado divergência quanto ao seu teor.

Entre outras pérolas, Darcimeire Coelho Pinto ressaltou, dentre outras coisas, que é uma honra ter chegado aos 38 anos com dentes na boca e que, de cada 10 crianças nascidas no Piauí, 11 morrem. Pareceria apenas xenofobia gratuita se ela não estivesse falando sobre uma realidade vivida por ela sem pobreza de argumentos nem amargura, mas inteligência em falar com bom humor sobre situações vividas por ela e a falta de perspectivas se tivesse continuado em sua cidade natal, Floriano; e a miséria de sua gente.

Pronto: o furdunço estava feito. Nordestinos bairristas e exaltados levantaram-se em fúria contra as declarações que atentavam contra o bom nome do estado e de sua população. Mais uma vez repito o que costumo dizer sempre. Cada um de nós tem o direito de pensar o que lhe for mais conveniente acerca de qualquer assunto, desde o preço do pastel com garapa na feira desde a eleição do presidente norte-americano Baraq Obama. E discordar de pontos de vista também, é claro. Mas, se discordar de algo, apresente argumentos que refutem sua hipótese ou cale-se. E nem apele para o senso comum que a emenda sairá pior do que o soneto. Sem frases feitas. Convença-me do contrário, ou ao menos tente.

Não foi o caso de Dadá. Em sua página no Orkut ou no YouTube, revoltosos atentavam contra sua honra utilizando argumentos vazios e assassinando da forma mais descabida a língua-mãe, lascando-lhe palavras de um dialeto ainda a mim desconhecido, tais como "concerteza", "nada haver", "isagero", etc. Imaginei que se Guimarães Rosa tivesse lido tais declarações teria se envenenado com cicuta para esquecer essa desdita em sua existência.

Espero que não me tome como anti-nordestino. A questão não é essa, mas sim a falta de argumentos que se tém quando alguém toca no ponto nevrálgico: a falta de compasso entre o desenvolvimento nordestino, sobretudo seu interior, com o restante do Brasil. Não me importo que apontem para os defeitos e características da região em que vivo, pois eu não vejo somente seus pontos bons. Os ruins tb existem, procuro ver pelos dois pólos. E se o que tiver de ser dito o for de uma forma deliciosamente irônica, melhor ainda. Assim fez Dadá Coelho, sem ressentimentos por ter vindo de uma terra que lhe negou todas as oportunidades de ascensão social e profissional. O perigoso é quando descamba para a ofensa gratuita, desmoralizante.

Em suma, gostei deveras da entrevista com a irmã de Ememary Janes.
Se tiverem paciência e tempo disponível, assistam sua entrevista, disponível no YouTube nessas quatro partes: