quarta-feira, novembro 05, 2008

À Beira do Pântano




-Mãe, o que é o amor?

-Hum?

-É, o amor, eu quero saber que que é isso.

-Minha filha, porque essa pergunta agora?

-Por nada não, um dia desses eu vi um casal de namorados falando um para o outro: "Eu te amo!" "Eu também te amo", e mais uma porção de frases com essa palavrinha que eu adoro balbuciar para sentir o som dela. E eu quero saber o que, afinal, é esse tal de amor.

-Mas, filha, eu não sei o que é amor.

-Então você não ama o papai?Vocês brigam de vez em quando, mas escuto sempre uns cochichos, quando a senhora diz que ainda o ama.

-Amo, sim, claro que amo....

-Então me diz o que é esse tal de amor!!!!

-Ainda é tão cedo para que aprendas esse tipo de coisas, menina.

-E quando será então a hora de eu saber o que é o amor?

-Isso somente o tempo vai te dizer, amor é o tipo de sentimento que não se mensura com palavras, apenas se sente, sem se perguntar o porquê da existência dele na nossa vida. Apenas se ama, pura e simplesmente. Se pensar demais, quebra-se o encanto da coisa e se cai em um poço sem fundo, do qual não se sabe se e como vai sair. É como o ódio, a ternura, o alívio; a gente sempre sabe quando o sente, mas não pode desenhá-lo da forma exata, e sim sempre de um jeito idealizado. Você não é a primeira pessoa que se pergunta sobre isso, filha, e possivelmente não encontrará as respostas aos seus questionamentos. Agora deixa a mamãe terminar a limpeza.

-É que eu ainda não sei como se ama.
-Ah, amar tem seus mistérios, aliás, existir tem muitos deles também. O tempo vai passar, você se tornará uma moça vistosa e então você terá o primeiro de muitos amores. Vivendo você se sujeita a isso, independente da sua vontade ou necessidade. É como em um passe de mágica, se diz a palavra encantada e pronto, a coisa aparece assim do nada. E transforma nossa vida. Ou vai nos transformando pela vida afora. Não se preocupe com isso ainda, filha. Apenas exista, que para isso você vive. Mesmo que, de vez em quando, vier uma mosquinha zumbindo no seu ouvido esse tipo de perguntas, procure não dar muita atenção a ela e venha perguntar para mim o que você quer saber. Se bem que eu tenho perguntas cujas respostas também não saberia fornecê-las, pois esse é um dos és da coisa. Senta aqui no meu colo, vem...

-Eu achei tão bonito ouvindo aqueles dois falando essas coisas diferentes, será que vai demorar muito para eu saber o que é o amor?

-Não precisa saber o que é o amor, mas apenas quando você o sente por algo, alguém, um animal, uma coisa, ou algo que o valha. Pois o amor também salva. Salva do escuro em que nos afundamos ao viver. Não que você chegue à tona amando, mas com ele a vida toma outras dimensões até então não imaginadas. E essas dimensões nos conduzem também a outras portas. Porque existir é abrir portas, filha. Hoje você está com a mãozinha na maçaneta com essa ideiazinha de saber como se ama e o que é o amor. Se você descobrir alguma resposta, você vai abrir a tal porta que vai te levar a um quarto igual ao que você estava antes.

-E tenho de abrir muitas dessas portas, mamãe?

-Vais passar a sua vida inteira entre elas, filha, bem que eu queria te poupar de tais descobertas. Mas é impossível. Sem querer você desabrochou do ovo e se descobriu humana. Após isso mergulhaste em um caminho sem volta. Mas com muitos meandros.