sábado, novembro 25, 2006

Menino, larga desse videogame e vai estudar!


"Não é fácil escrever. É duro quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espelhados". (Clarice Lispector)
Tenho de concordar com nossa grandiosa Clarice Lispector, não é simples escrever, é extremamente penoso e mais cansativo do que supõem alguns. Até porque esse ato não é feito de forma aleatória, quando se bem entende, não se escolhe ter ou querer escrever como se tivéssemos de ir escovar os dentes ou chupar uma bala em uma hora determinada. Ao mesmo tempo em que isso se torna uma missão, é na mesma medida um fardo muitas vezes pesado de se carregar, apesar de prazeroso e reconfortante. Porque expressamos com as palavras uma gama de sentimentos que nos arrebatam e não conseguimos expressar pela via oral. Não que ela seja feita em sua plenitude na sua escrita, mas devemos tentar, sempre, incansavelmente, mas a palavra tem vida própria e não se deixa comandar por nós; ao contrário, ela se serve de nós para se fazer ver e sentir, nos momentos predeterminados por elas. Nada mais somos do que apenas seus transmissores.
Não se estuda para ser escritor, ou ao menos tentar ser um; mas não digo com isso que o indivíduo deva deixar de abandonar a sala de aula se sentir que essa é a sua vocação. Existem cursos ligados à escrita, como Letras e Jornalismo, mas eles não formam esse tipo de profissionais, apenas te ensinam as ferramentas de como se servir melhor do uso da palavra nos seus manuscritos. A formação se dá pela vida, nas ruas e avenidas, sentindo e observando o outro, sempre, e lendo muito, sempre, incansavelmente, não importa que sejam livros densos de 1.000 páginas, bulas de remédio ou outdoors. O importante é sempre buscar captar novas mensagens na busca do seu estilo literário, seja ele qual for.
A formação é contínua, incansável, e dolorida às vezes, como se fosse um parto, muitas vezes o texto sai à fórceps, muitas vezes nos surge inesperadamente como um passe de mágica. Escrever é uma espécie de maldição sim, Plínio Marcos já dizia isso, mas em relação aos atores. Ele falava que eles eram malditos porque tinham o papel de representar com seus corpos todas as mazelas e complexidades dos homens. Escritores não fogem às regras. Mas eu acredito que, apesar das adversidades, não há nada tão prazeroso quanto se sentir realizado naquilo que se faz, seja em qual tempo ou civilização for.
O papel é apenas um dos meios das mensagens, a palavra pode se manifestar das mais diferentes formas. Quantas vezes não lemos algo e nos colocamos no lugar das personagens, em suas aventuras, medos, descobertas, atos cotidianos, até torcemos por eles como se não fossem seres inanimados. Projetamos no papel tudo aquilo que ansiamos, mesmo inconscientemente, queremos dividir o nosso eu com os demais, queremos sempre reinventar a ordem estabelecida. O importante é se comunicar, apesar de saber que a mensagem sempre chegará distorcida ao destinatário. Ossos do ofício, meu caro Watson.
Jorge Amado entrava em depressão quando terminava suas obras, pois durante meses a fio aquelas personagens habitaram seu lar, fizeram parte de sua vida, ele narrava os acontecimentos delas durante as refeições. Machado de Assis pegava mais papel e escrevia cartas aos amigos e contava sobre suas obras. Enfim, as reações são as mais adversas. Mas escrever são os dois lados da moeda, santo e profano ao mesmo tempo. Está no sangue, na essência. Quem vive essa mesma realidade sabe do que eu digo. Porque no fundo não são apenas letras juntas que formam palavras, é toda uma experiência de vida contida ali. Sou eu, são vocês, somos todos nós. Quem faz disso seu modo de ganhar a vida sabe que o mais importante não é o dinheiro no final do mês, mas os demônios exorcizados. Fazemos terapia de graça. E ainda somos remunerados para isso. Somos todos e nenhum ao mesmo tempo. Somos o operário e seu patrão, a madame que faz compras na Oscar Freire e a moradora de Heliópolis, o pescador do litoral cearense e o executivo de Belo Horizonte. Assumimos vários rostos, temos várias identidades, sem que isso implique em falsidade ideológica. Porque na verdade ninguém é o que está escrito na carteira de identidade. Nós somos rastros que vamos deixando pelo caminho, conforme vivemos. Somos um mosaico que nunca se fechará. E o escritor tenta juntar esses cacos. Papel difícil o nosso, não acha?

3 comentários:

O Sanatório Geral disse...

Salva de palmas para o meu xará mais uma vez!!!!!!!!!!!!!!!!

Realmente, escrever tá no sangue. Mas bem que poderíamos ser influenciados na escola a gostar de ler, escrever, dialogar, discutir... Mas aí já seria motivo para uma nova publicação aqui no seu blog.

Sucesso xará

Anônimo disse...

primeiramente, mocinho: eu estou chateadérrima com vc pq vc ainda num foi me deixar nem se ker um oi lá no meu blog. etão ou vc vai ou eu nunca mais volto aki e te tiro dos meus favoritos hahahaha! nossa até parece q eu vou fazer isso. vc sabe q eu te amooooooo
mas agora voltando ao post, ou melhor, iniciando meu discurso sobre o seu post. realmente, escrever de fato nãoé fácil. não que as idéias e a vontade não estejam presentes, mas tem dia que é um custo escrever até mesmo uma única linha. mas escrever é uma dádiva e eu não sei viver sem a escrita.
saudadeeeeeee

Anônimo disse...

Tudo bem que escrever é exorcizar demônios,mas eles permacem por muito tempo incorporado em nossa entranhas isso sim;
é um ato sagrado,subversivo que você desempenha com maestria,
por isso adoro ler-te,
beijos luzes e força em sua caminhada de escritor.