sexta-feira, janeiro 08, 2010

Pensamentos esparsos


Estive pensando em todas as coisas que eu poderia ter dito, olhado, sentido, sido e esperado se houvesse tido tempo para tal, mas a quebra se deu imatura, antes da percepção ao menos do que já havia se iniciado. E, principalmente, anterior ao primeiro suspiro.

Como uma casa mobiliada antes da finalização de sua construção. Assim foi. Casa abandonada, com a poeira tomando conta e resquícios da última chuva com móveis embolorados. Azulejos quebrados e grama alta em volta da construção. Não houve tempo para o fechamento do ciclo: nascimento, crescimento e morte. Nascimento e morte confundiram-se de tal forma que se tornou difícil precisar onde é o fechamento de um e iniciação da sua consequência. Mas ficou a nostalgia do não-experenciado nas paredes da casa, que ainda guardam marcas quase imperceptíveis da sua passagem. Leve cheiro acre no teto inexistente desse quarto. E alguns olhares e muitas perguntas de como teria sido essa casa com aquela presença mais prolongada.

Se você ainda cá estivesse, já teria tirado seus óculos escuros para melhor observação da disposição da mobília modificada no dia anterior. Olharia o capacho da porta com a sensação de que suas pisadas teriam sido assimétricas e barulhentas. E todos os outros objetos seriam meros detalhes crivados de histórias e sensações. Alguns copos vazios e cinzeiros lotados pela varanda denotariam que uma tarde qualquer havia sido entremeada por amigos em comum, muitas risadas e conversas desconexas.

Mas você se foi sem ao menos deixar um bilhete grudado com imã na porta da geladeira já enferrujada: Gás-Requeijão-Cenoura-Alface-Acabou, não volto mais - PS: Tire as roupas do varal.

Um comentário:

Amanda B. Holiday disse...

E, lá vem vc., mais uma vez, escrever bonito para que a gente não tenha o que comentar... Nada. 'E se.' Pretensão? De todos.