sexta-feira, junho 18, 2010

Em Braile


Ontem você disse que me amava, assim, bobamente e de uma forma tão terna e que sei que para ti extremamente sincera. Confesso-te, a ti, a eu mesmo, a vós, para quem quiser ouvir, ou melhor, ler as palavras que digo com extrema vontade de gritar pelos canteiros centrais da praia: engasguei. Não esperava isso, até porque conheço-te o suficiente para saber que só dirias isso, se um dia o dissesses, se realmente o sentimento viesse do seu mais profundo, dos seus poros, carne e coração. Nem é preciso que eu diga o quanto também te amo e te quero, ao meu lado, na minha frente, em todos os cantos, preenchendo os espaços vazios e ocupando também os que estiverem de alguma forma preenchidos pelo que se convencionou chamar de existência, tudo o que fui, sou e serei. Se bem que é preciso que se diga que, quando te vi pela primeira vez, sabia que alguma coisa aconteceria em minha mente e coração. Sem medo de pieguismos ou lugares-comuns, o coração começou a bater em compasso diferenciado, acompanhando aquele ritmo melódico de quem sabe que nunca mais será o mesmo depois de certas visões e experiências.

E sorrio para estranhos, como quem quisesse compartilhar um pão, um doce ou algum outro alimento escondido em meu bolso, como quem fala com o olhar: sejamos felizes com os presentes que nos são dados abruptamente, naqueles momentos inesperados, como quem olha para as nuvens que formam desenhos no céu e procura adivinhar qual imagem formam. E rio freneticamente, ainda mais quando falo contigo ao telefone, procurando que absorvas a energia que emana do meu ser e te faça sentir um arrepio na espinha e uma quentura nas orelhas como quem sussurrasse: ai de mim sem ti hoje aqui ao meu lado, tocando meus dedos frios com suas mãos quentes.

És, em verdade, muito mais do que consiga externalizar com a palavra, pois ainda não fui treinado ou sensibilizado o suficiente para dar nome a certas emoções. Eu apenas sei sentir, falá-las ainda que tremulamente e vacilante. Só sei que também te amo. Que você me ama. Que nos amamos ainda mais quando o oculto que ambos já sabíamos nos foi revelado. Que possamos sentar na mesa e dividir o nosso cálice com todos aqueles que sabem nesse mesmo instante o que vivemos e que todos aqueles que não o sabem ainda venham a experimentar. Tem valido a pena todos os dias, e valerá ainda mais. Fecho os olhos e sinto uma alegria tão grande que meus olhos lacrimejam, agradeço entorpecido e toco suas sobrancelhas. Infantilmente, bobamente, como o cego que ansiosamente procurasse conhecer o mundo pelo tato. Tateio a ti, tu me tateias, e com nossas mãos tateamos o mundo que a partir de agora nos descortina inteiramente novo.

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