domingo, novembro 12, 2006

Quero ir pra Pasárgada





Vou-me Embora pra Pasárgada (Manuel Bandeira )
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Às vezes tenho vontade de largar tudo, ir para a rodoviária, olhar para seus guichês, pensar naqueles nomes das cidades que provavelmente nunca irei conhecer nem de passagem, tomar coragem e comprar uma passagem para um lugar bem distante, e lá recomeçar a vida, com novo nome, identidade, história de vida, ou seja, recomeçar o que aliás nunca teve início de fato. Mas o fato é que sou extremamente covarde, como na maioria dos tópicos da minha existência. Falta-me o impulso, aquele estampido, o famoso cinco minutos de ousadia e partir nessa empreitada. Mas o fato é que eu penso muito no que farei, ou no que penso que estarei realizando com esse ato.
Sim, porque o praticando reconstruirei uma existência, me desconstruirei, deixarei pra trás muita coisa vivida, para começar da estaca zero. Não digo apenas em deixar familiares e amigos, mas a linha que as liga a tudo isso e muito mais aspectos, pensando que com isso poderei a partir daquele momento fazer diferente do praticado atualmente.
Imagino com isso estar deixando definitivamente no lixo a minha essência, meus ideais, e viver de acordo com o habitual, me atendo somente aos aspectos práticos da vida, como um trabalho rotineiro sem grandes perspectivas de crescimento muito menos realização pessoal, contas de telefone, água e luz, carnês de lojas de móveis e departamentos, impostos do governo, prestações do carro, relacionamentos sérios que implicarão necessariamente em casamento ou na melhor das hipóteses na mancebia, etc. Ou seja, parar de pensar no abstrato e partir para o concreto, o palpável, o visível, ser mais um na multidão e ficar contente em poder quitar o meu armário com suaves prestações a juros módicos.
Negar a tudo aquilo que acredito, perguntar e buscar pelo que me perturba durante horas a fio todos os dias, não me lamentar pela falta de oportunidades na vida para seguir carreira no que realmente almejo e correr atrás da subsistência, pois não há outra solução, amadurecer e deixar de depender economicamente dos meus familiares, parar de sentir medo dos outros e andar de cabeça baixa nas ruas, não se sentir mais um maldito e ter asco do que sou e principalmente do que passo às pessoas, torcer para não encontrar um conhecido pela vida que me venha fatalmente a perguntar o que ando fazendo e eu com cara de tacho ficar sem ter o que responder, fora algumas coisas que não me passam à cabeça nesse momento.
E, principalmente, perceber que não é a cidade aonde moro e por quem nutro uma relação conturbada, que mescla amor e ódio, que é a responsável pelos meus fracassos, mas eu mesmo que não soube o que concretizar na vida. Enfim, me negar, deixar para trás tudo que aprendi e sentar em bancos escolares imaginários e tomar novas lições de cidadania e civilidade, sendo estas aprendidas no cotidiano das ruas e avenidas de alguma cidade desse nosso imenso país.
É aí que me vem a fatal pergunta, a que lugar pertenço, seria Alegrete, Timbó, Pato Branco, Queluz, Varginha, Campos do Goytacazes, Domingos Martins, Xique-Xique, Lagarto, Arapiraca, Cabrobó, Brejo das Freiras, Mossoró, Crato, Piripiri, Codó, Abaetetuba, Araguaína, Calçoene, Caracaraí, Manacapuru, Cruzeiro do Sul, Rolim de Moura, Sorriso, Campo Grande, Anápolis ou Taquatinga ou qualquer outra margeada por algumas das nossas maravilhosas estradas governamentais? Aonde mora a felicidade e o meu eu, que ainda não achei e a quem darei um longo abraço no dia da nosso encontro e vou convidá-lo para sentar em alguma praça pública, e lhe perguntar muito seriamente: "Poxa, por que você não apareceu antes, há anos te procuro!!! Mas nem um telegrama você me mandou para me dar seu paradeiro?" Ao fundo, alguma música tipo Bruno e Marrone ou Daniela Mercury, pois, se vou renascer, preciso deixar para trás meus gostos musicais também, oras bolas.

5 comentários:

Anônimo disse...

negar o q somos e tentar inventar o q não somos não é realmente a coisa mais fáciul e correta a se fazer. fugir das pessoas, dos medos, das incertezas é fugir da vida. td tem dois lados, até mesmo a história inventada. o melhor é tentar melhorar o q já possuimos.

Anônimo disse...

venha pra sete lagoas.. dê um del e começe do zero.

Anônimo disse...

comece eu disse

Juh disse...

Eu quero ir pra Pasárgada!

Perdido, mas achado... disse...

"Mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira...não sou mais tão criança, a ponto de saber tudo..."