Quando me comunico, inconscientemente dou um fragmento ao outro. Pedaços do corpo. Em graus variados do que está em questão, mas sempre assim um corpo. Corpo que se desfragmenta a cada palavra dita. Lançada. Vomitada. O que eu comunico muitas vezes escapula ao meu alcance. Mas eu me comunico. Tento. Apesar de, eu tento. Mesmo não sabendo as consequências do meu ato, eu o pratico. Inconsequente e de forma inesperada. Prefiro não pensar no que haverá de surgir com o que digo. Mesmo que sussurrando, apenas. Mas ainda assim, irresponsavelmente, eu digo. E mesmo que meu castigo seja cruel.
Ontem eu fumei no escuro e, olhando a brasa, me disse algo que não posso revelar. Há de se ter segredos consigo mesmo para que a vida continue misteriosa. Nem a eu mesmo hei de revelar o que foi dito na penumbra daquele quarto. Mas algo me foi comunicado, e assim o é diariamente. Me comunico comigo mesmo e com outro sem ao menos perceber. Acredito que viver também seja isso. E foi com a alegria de um garoto que eu me disse algo, saborendo as meias palavras e atento para que não fosse ouvido. Seria uma violentação suprema que descobrissem esse meu segredo. Era o meu eu mais profundo que falava com o meu corpo. Um corpo com seus mistérios.
Mistérios que vêm à tona sobretudo quando digo: "Não sei.". Porque não saber é perigoso até. E de alguma forma traz conforto a quem não sabe. Mas o que não se sabe? Não saberei te responder. É misterioso demais para minha compreensão. Por enquanto, eu te digo que não sei. É preciso coragem para esse autoenfrentamento e percepção de que não se sabe. Talvez nunca se saberá. Mas provavelmente muitos outros o sabem. Isso eu também não sei afirmar, é uma interrogação. Se você também não sabe me ensine ao menos como é isso porque ainda não estou acostumado a não saber.
Eu sinto que não sei, e, enquanto isso, o indevassável se torna mais e mais nebuloso. Porque o doloroso não é não saber, mas sim perceber que não se sabe. Aí mora o perigo. Quando descobri que eu não sabia não saber, não aceitei e fiquei indignado. Estupefato. Macambúzio. Esse direito eu acho que tenho. Já que o saber me foi negado, que ao menos eu aprenda a não saber para não fazer perguntas. Porque eu cismo em perguntar, mas para que saber se eu não saberei o que fazer com essa coisa que quem sabe eu saberia?
Um comentário:
Eu sei que nada sei, assim ja dizia o filosofo.
bjk
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