terça-feira, julho 28, 2009

Sobre a Frustração


Com o olhar perdido imaginando como seria diferente o branco da parede com outras cores e com uma das mãos apalpando o aparelho telefônico, lembrei de mim mesmo. Chovia lá fora e baldes escoravam a água que jorrava do grande quarto que eu me sou. Paredes riscadas, pisos quebradiços, infiltrações na parede e mofo aparente. Nele eu me escoro, me amoldo, eu me acomodo. Sinto frio com a camiseta molhada ajustada ao corpo. Meus dedos das mãos esfregam o corpo em busca de calor, imaginário que seja. Estou nesse quarto e faço parte dele, de tal modo mesclado que confundo-me com ele. Eu quero o sol, preciso de algum calor. Há pouco tempo, havia saído de lá e o tempo abriu, mesmo que nublado.
Folhas caídas na calçada úmida me remetiam a tempos em que olhava para os lados e o parco movimento das ruas me amainava. De forma torta eu era livre e disso ainda não tinha consciência. Se bem que nunca experimentei a liberdade plena, mas esse detalhe é irrelevante. Meu estar ali não modificaria absolutamente a ordem das coisas. Fechava os olhos desejando outras calçadas que não aquela, sentir algumas outras texturas. Nostalgia de um passado distante, presente incerto e futuro duvidoso.

Voltei ao quarto sem luz a partir do momento em que me percebi novamente solitário. Ironicamente choveu, sendo que em meu quarto poças denunciavam a volta da umidade, meus cabelos emudeciam com as gotas que denunciavam a fragilidade da estrutura na qual eu me apoiava. Ontem choveu no meu futuro. Ai de mim se não abrisse o guarda-chuva como forma de me proteger da água que cismava em me tocar a pele.


A umidade nos ossos em certo momentos havia se tornado intolerável, mas necessária. Quando saí da casa durante o amanhecer, fechei automaticamente muitas portas e apaguei várias luzes. Sentei no chão e olhei a esmo para o nada. O nada simboliza o hoje em que fui posto. De alguma maneira exemplificado como o copo vazio esperando o líquido que faça valer seu sentido. Dois objetos inanimados com funções limitadas em sua essência. Se existir alguma essência em ambos.


Esfregaria os olhos e sairi desse estado de semiletargia, levantaria do chão e andaria junto ao gramado cujo branco ocupas. Sentaria e te olharia. Não choveria mais. Um dia eu consigo. Nasço no dia em que te provocar necessidade. Aliás, nem devo te extasiar a tal ponto. A sensação nascerá sem que se dê conta. Como a erva daninha crescendo a meio a heras.


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