Agora não adianta mais, é irreversível, o cheiro já está grudado irremediavelmente em minha pele e roupas, durante o anoitecer e principalmente quando amanhece. Na outra esquina, não sei se te encontrarei mais uma vez, mesmo algo me dizendo que sim, que não pode ser dessa forma torta, que ainda existe um desvio, um outro caminho, uma estrada vicinal que me conduza ao mais fundo de você e que você venha a me tirar desse torpor, dessa apatia letal que me tem feito arrastado e pesado pelas horas que vão se passando sem que eu me aperceba disso. Apenas palavras, vãs e fúteis como quem as escreve. O que palpita é muito mais verdadeiro e essencial. Tem sido o meu leitmotiv nas madrugadas insones.
PS: Lembra quando você me disse que não sabia porque ainda se lembrava com saudades de mim? A resposta é muito simples: és sadomasoquista, gostas dos subterrâneos, e eu sou o simulacro mal acabado daqueles que não foram, não tiveram e nunca serão. Eu sou as suas angústias mais profundas, o que você não conseguiu externalizar, mas que por algum motivo mantêm vivo dentro de ti. Eu fui a realização dos seus piores dramas, somente porque eu sou a imagem daquele não realizado, do distante, do que olhava para ti como se procurasse a salvação que nunca poderias me dar. Sendo assim, aceite: eu fui e seria a sua maldição se continuássemos sendo um só.