sábado, fevereiro 20, 2010

A Ciranda


Encontro-me parado e solitário dentro daquele elevador desativado temporariamente entre dois andares por falta de energia elétrica, em meio à penumbra. As horas passam lentamente sem possibilidades de algum resgate, motivados talvez pela minha inabilidade e apatia em recorrer de algum socorro, nem ao menos me apercebi ainda do telefone de emergência instalado à minha direita. Sento no chão acarpetado e observado a fraca luz que adentra o ambiente, com a sombra do meu rosto na palma das mãos, observando-as desatentamente e sem estardalhaço interno algum. Apenas com a sensação da reminescência, do eterno retorno, do temido, do não esperado que volta sempre, independente da minha vontade e necessidade.

De certa forma acalma-me aquela meia luz, simbologia de que, ao menos por enquanto, existe um resquício de salvação, de ainda não queda total pelo que suponho ser acontecimento futuro. Ainda vivo somente a ansiedade da espera, da inquietação e das mãos úmidas do que não pude evitar, por mais que me atormente sabendo que poderia tê-lo evitado, mas, mais uma vez o círculo se fecha e vejo-me nas mesmas circunstâncias de um passado não tão distante que não me seja mais possível revivê-lo em flashbacks e objetos que o remetam a tal.

Na minha imaginação algumas crianças naquele corredor brincam de ciranda, entoando aqueles cânticos infantis, enquanto eu ao centro observo somente com o olhar suas bocas e corpos tremulantes e arfantes que rodam simetricamente sem que em algum momento a roda se desfaça e cada uma delas se ocupe de outras brincadeiras ou afazeres. Ali estava sendo estabelecido para que eu não pudesse me desvencilhar da prisão que começara a se acercar de mim alguns momentos antes.

Só sei que temo reviver certas situações que procuro evitar com conhecimento de causa, comparando-as ao dia em que, mesmo com o sol causticante, não me precavi e saí à rua sem ao menos uma proteção mínima para os olhos. Como resultado, obviamente, enxergava vultos em meio ao amarelo incansável solar.

E assim tem se iniciado o processo interno do tão temido, do evitável mas infelizmente ainda assim alcançável. Palavras tem sido vãs na sua descrição porque, mais uma vez, o principal de tudo ficará nas entrelinhas e com elas não me seria possível sua descrição, somente um rascunho roto do que tanto me amedronta.

Pois sendo assim, troco em miúdos: espero que esse elevador seja consertado em tempo cômodo, pois não gostaria de novamente provar do fel e dos gritos de paixões desenfreadas e mal ajambradas.

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