terça-feira, agosto 08, 2006

Zuzu Angel


Ontem fui ao cinema assistir Zuzu Angel, um dos grandes símbolos de uma das épocas mais malditas e sangrentas da nossa história, a famigerada ditadura militar. O filme por si só é bem didático, mas carrega em si toda a simbologia dessa época tão fascinante pra mim, principalmente na cena em que seu filho, Stuart Angel, fala junto com sua namorada sobre a revolução do povo e para o povo, que o capitalismo deveria ser combatido e estava em decadência. Era questão de tempo para a tomada do poder pelo proletariado, era o sonho de uma nova revolução cubana em solo brasileiro. Eram jovens sonhadores, que morreram por uma causa.
Mas o interessante mesmo no filme foi a vida de uma mulher que até que a questão da tortura batesse na sua porta não se preocupava com isso, dizia que não tinha tempo pra política. Mas quando seu filho foi preso e morto pelos militares a coisa mudou de figura. Da mulher que apenas se preocupava em fazer moda para o exterior e sobreviver da sua alta costura, passou a ser uma mulher engajada que lutou até a sua morte, cinco anos depois da de Stuart, pela justiça e ter ao menos o direito de poder enterrar seu filho (o corpo dele foi jogado ao mar e nunca foi achado).
Nos vemos em 1971. Zuzu já conquistou o mercado norte-americano com sua moda alegre e festeira. Mas após a morte de seu filho ela resolveu se servir dos instrumentos à mão como meio de denúncia do que realmente estava ocorrendo no nosso país. Roupas negras, com desenhos que nos davam a sensação de angústia, prisão. Foi assim, dentre outras formas, que ela denunciou e pagou com a própria vida por não ter medo dos militares. A conquista da Copa de 70, o milagre econômico, a construção da Transamazônica, da ponte Rio-Niterói, esses e outros artifícios usados pelo governo militar pra encobrir o que realmente estava acontecendo, a tortura e a morte de muitos reacionários em plenos quartéis, com apoio total e irrestrito dos grandes mandachuvas de Brasília. Assim muitos homens e mulheres perderam suas vidas nas mãos de uma corja tão maldita que não merece nem ser classificada como humana. Enquanto a população vivia sua vida normalmente, com apenas alguns sobresaltos como assaltos a bancos ou blitz rotineiras, a guerrilha urbana e mesmo a do Araguaia comia solta pelo país, sem grande apoio popular.
Zuzu Angel morreu assassinada em 76, no dia 16 de abril, às duas da madrugada, na saída do túnel Dois Irmãos, no Rio de Janeiro. Seu carro capotou após ser impedido por um automóvel com militares e ela teve morte instantânea. Durante 22 anos a resposta que se deu foi a de que ela dormiu ao volante, mas a família sempre soube que essa versão era mentirosa.
O importante é que tanto a sua morte como a de tantos outros não tenha sido em vão, que nunca nos esqueçamos desses que lutaram tanto para que hoje possamos ter essa liberdade que mal sabemos aproveitar. Sim, porque de certa forma ainda temos liberdade, pois com muito menos do que isso uma geração inteira fez história.
E o principal de tudo é que não nos curvemos a senhores que por estarem fardados e representarem o Exército, Marinha ou Aeronáutica se julguem os senhores absolutos da verdade. Que a ditadura nunca mais tenha lugar nesse país.



Filme Zuzu Angel

2 comentários:

Anônimo disse...

Pois é vou ter que esperar sair em dvd ou baixa-lo do emule rs
Depois de ler seu texto,conversar contigo sobre o filme,me disse que perderia o encanto de ve-lo,ledo engano,estou ansiosa para assisti-lo.
beijolikisss

Anônimo disse...

ops meu nome não saiu
kkkkkkkkkkk
bjão
Denise