terça-feira, maio 19, 2009

Sobre o Vôo


- Eu quero voar!!!!!!!!!! Já estou farto dos desenganos que me traz o chão pedregoso, quero tocar nas asas das aves e experimentar uma sensação de liberdade nunca antes vivida. Eu quero mais com o que me contentar, eu quero ter muito mais para poder sobejar, forrar os bolsos, distribuir aos meus colegas. Eu quero a ganância do sobrar. Quero ter o ímpeto de espalhar sementes no chão antes da chuva e ser o responsável pelo criar. Quero deitar na cama e ter ao meu redor o sobejo. Quero lambuzar a mim e aos outros desse vôo entusiasmado. Eu quero dançar no gramado em plena tarde abafada sem ter com o que me ocupar. Que o pão não me seja caro nem fastidioso. Que as horas passem sem eu me dar conta delas. Que eu seja irresponsável com as contas a chegar. Que no cinema eu possa gargalhar sem aos outros incomodar. Que o verbo eu possa usar sem censura, e no coração dos outros eu possa tocar. Mais, mais, mais e muito mais.

Pois bem, assim o quis e assim eu o fiz. Quando dei por mim já estava a muitos pés de altura e no infinito campo de visão eu só via verde e mais verde, vacas pastando, plantações de hortaliças e ao fundo construções do que supus ser uma vila.

Preparava-me para o salto sem em nada externo pensar. Só queria chegar naquele chão e perfume novo aspirar. De tudo que me fosse novo experimentar. Surdo estava ao que o instrutor me dizia, inflamado estava pela ânsia do que estava a me recepcionar. Tanto esperei por esse vôo que tudo o mais se tinha tornado dispensável. Se, se.. Bah, do que me importavam os prejuízos quando lá embaixo eu teria uma mina a escavar. Eu não queria pensar, mas agir, acontecer, ser, poder. Tudo que me fora negado eu fazia questão de ter, nem que para isso eu tivesse que portas arrombar e vidraças arrebentar. Aquilo tudo lá embaixo era só meu, todo meu, irremediavelmente meu.

1,2,3...Pulei. O barulho do som do céu me ensurdecia, com as nuvens muito densas acima de mim a me acompanhar e dividir comigo aquele local de passagem. Não sei quanto tempo ali fiquei muito menos quantas piruetas executei. Eu ria como criança que se lambuza de sorvete. Como era bom voar. Ainda me dói de alegria aquele vôo, a sensação de liberdade conquistada. Esfregava as mãos de puro contentamento. Era chegada a minha hora.O cheiro de ar puro adentrava meus pulmóes. Tinha tanta coisa a fazer quando botasse os pés na terra vermelha...

Pousei.

Logo após acordei.

Na cozinha a água do café fervia no bule.

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